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“Sem a visão e o trabalho de Clement Seymour Dodd, o reggae como conhecemos hoje não existiria”.
The Virgin Encyclopedia of Reggae
Conhecido no meio do reggae como “Sir Coxsonne” Dodd , o fundador do lendário Studio One – também chamado de “Universidade do Reggae” - faleceu no dia 04 de maio dentro do mesmo estúdio onde construiu as bases da música que tanto amamos.
Clement Seymour Dodd nasceu em 26 de janeiro de 1932. Sua família tinha uma loja de bebidas onde Clement se encarregava de entreter os clientes e mantê-los no bar. Ele contava com a ajuda do pai, que também trabalhava no porto, de onde trazia discos de jazz e rhythm & blues dos navios americanos para o filho tocar em seu toca-discos Morphy Richards na calçada. Assim Dodd foi desenvolvendo um gosto musical refinado, que pode exercitar em 1954, quando fez sua primeira viagem aos Estados Unidos para trabalhar e aproveitou para comprar uma boa leva de discos, o que se tornaria um hábito pelos anos seguintes. Nessa época ele já tinha se tornado independente do bar, fundando um dos primeiros sound-systems, chamado Coxsonne Downbeat por causa de um jogador de críquete, e que acabou se tornando o apelido de seu dono. No microfone, comentando e anunciando as músicos, o pioneiro no desfiar do canto falado, Count Machuki, um dos primeiros artistas a ter sua primeira chance com Dodd.
Muitos outros o seguiram, como King Stitt, discípulo de Machuki que continuou a trabalhar com Coxsonne até hoje. Outros como Prince Buster, Lee Perry, Bob Marley e um longo etc, o deixariam logo, não sem antes aprender as noções básicas do metier na Universidade do Reggae. O meio musical começava a se tornar um bom negócio, atraindo multidões aos bailes ao ar livre ou em clubes semi-abertos. Segundo depoimento de Dodd a Steve Barrow, a concorrência que seu sound-system tinha com o de Arthur “Duke” Reid, chegava muitas vezes `as vias de fato, e ele mesmo chegou a dar uns socos em enviados de Reid que tentavam perturbá-lo na hora de trocar os discos.
Quando os artistas de rhythm & blues perderam espaço nos lançamentos americanos para o emergente rock n’ roll, que não era muito apreciado pelos jamaicanos, os discos novos rarearam e os sound-systems se viram ameaçados. Dodd foi um dos primeiros a tomar a iniciativa de gravar artistas locais, em estúdios precários com apenas um microfone para todos, cantores e instrumentistas, primeiramente fazendo versões e canções originais próximas ao r&b americano. Elas eram gravadas e prensadas apenas para tocar nos bailes (como nos atuais dubplates), mas o sucesso de algumas fez com que a partir de 1959 Dodd começasse a fazer pequenas tiragens de compactos de vinil para vendê-los ali mesmo, para quem tinha acabado de dançá-los na pista. Como Reid iniciou sua produção na mesma época e as vendas começaram a dar lucro, o processo se acelerou, fazendo com que novos equipamentos fossem importados e mais músicos fossem contratados.
Esse cenário foi catalisado pela euforia causada pela independência da Jamaica da metrópole inglesa em 1962, gerando um um novo gênero musical, o ska (ver História do Reggae – parte 1). Dodd teve o mérito de fazer contato com músicos de boa formação (principalmente na Alpha Boys School de Kinsgton) que estavam dispersos pela capital da ilha e pelo circuito dos hotéis de luxo e dar-lhes condições de trabalho. Assim foi formada a banda The Skatalites. O ska logo amadureceu e se consolidou como um estilo, fazendo explodir as vendas e promovendo o surgimento das lojas de discos, que quase não existiam antes.
Com os Skatalites: Lloyd Brevett (contrabaixo), Coxsonne (com a partitura), Roland Alphonso (sax) e Johnny "Dizzy" Moore (trompete)
Vendo que o ska estava caindo no gosto do público, o astuto Dodd tomou a decisão que o colocaria na dianteira dos produtores jamaicanos por muito tempo: comprou o seu próprio estúdio. Localizada no nº 13 da Rua Brentford, a casa que já havia servido como sede de um clube chamado The End foi comprada no início de 1963. Coxsonne chamou-o de Jamaican Recording and Publishing Company Limited, mas sempre foi conhecido como Studio One. A posse do estúdio permitiu que Dodd deixasse os instrumentistas ensaiarem com calma, sem se preocupar com o tempo da locação. Assim eles puderam experimentar e desenvolver o som que queriam, sempre abastecendo o sound-system de Dodd com novidades. Além disso Coxsonne tinha tino comercial e uma grande capacidade de garimpar novos talentos, tanto entre os instrumentistas como entre seus ajudantes.
Coxsonne contratava os músicos, aprovava ou não o que era composto e sugeria possíveis versões de sucessos americanos (como "Like a Roling Stone" de Dylan, que teve uma versão dos jovens Wailers, entre outras) e ainda decidia o quê, como e quando lançar o que era gravado no pequeno e cada vez mais competitivo mercado jamaicano. Sua sagacidade e intuição certeira foram decisivas, fazendo com que o Studio One se destacasse pela quantidade, qualidade e consistência de sua produção musical.
Por tudo isso ele é reverenciado no momento de sua passagem para Zion como uma das figuras mais importantes na evolução da música jamaicana, importância que era sempre maior nas épocas de transição, como do ska para o rocksteady e desse para o reggae. Foi no período de gestação e posterior consolidação do reggae que o Studio One atingiu o ápice de sua influência, como veremos na segunda parte desta matéria.
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The Virgin Encyclopedia of Reggae
Conhecido no meio do reggae como “Sir Coxsonne” Dodd , o fundador do lendário Studio One – também chamado de “Universidade do Reggae” - faleceu no dia 04 de maio dentro do mesmo estúdio onde construiu as bases da música que tanto amamos.
Clement Seymour Dodd nasceu em 26 de janeiro de 1932. Sua família tinha uma loja de bebidas onde Clement se encarregava de entreter os clientes e mantê-los no bar. Ele contava com a ajuda do pai, que também trabalhava no porto, de onde trazia discos de jazz e rhythm & blues dos navios americanos para o filho tocar em seu toca-discos Morphy Richards na calçada. Assim Dodd foi desenvolvendo um gosto musical refinado, que pode exercitar em 1954, quando fez sua primeira viagem aos Estados Unidos para trabalhar e aproveitou para comprar uma boa leva de discos, o que se tornaria um hábito pelos anos seguintes. Nessa época ele já tinha se tornado independente do bar, fundando um dos primeiros sound-systems, chamado Coxsonne Downbeat por causa de um jogador de críquete, e que acabou se tornando o apelido de seu dono. No microfone, comentando e anunciando as músicos, o pioneiro no desfiar do canto falado, Count Machuki, um dos primeiros artistas a ter sua primeira chance com Dodd.
Muitos outros o seguiram, como King Stitt, discípulo de Machuki que continuou a trabalhar com Coxsonne até hoje. Outros como Prince Buster, Lee Perry, Bob Marley e um longo etc, o deixariam logo, não sem antes aprender as noções básicas do metier na Universidade do Reggae. O meio musical começava a se tornar um bom negócio, atraindo multidões aos bailes ao ar livre ou em clubes semi-abertos. Segundo depoimento de Dodd a Steve Barrow, a concorrência que seu sound-system tinha com o de Arthur “Duke” Reid, chegava muitas vezes `as vias de fato, e ele mesmo chegou a dar uns socos em enviados de Reid que tentavam perturbá-lo na hora de trocar os discos.
Quando os artistas de rhythm & blues perderam espaço nos lançamentos americanos para o emergente rock n’ roll, que não era muito apreciado pelos jamaicanos, os discos novos rarearam e os sound-systems se viram ameaçados. Dodd foi um dos primeiros a tomar a iniciativa de gravar artistas locais, em estúdios precários com apenas um microfone para todos, cantores e instrumentistas, primeiramente fazendo versões e canções originais próximas ao r&b americano. Elas eram gravadas e prensadas apenas para tocar nos bailes (como nos atuais dubplates), mas o sucesso de algumas fez com que a partir de 1959 Dodd começasse a fazer pequenas tiragens de compactos de vinil para vendê-los ali mesmo, para quem tinha acabado de dançá-los na pista. Como Reid iniciou sua produção na mesma época e as vendas começaram a dar lucro, o processo se acelerou, fazendo com que novos equipamentos fossem importados e mais músicos fossem contratados.
Esse cenário foi catalisado pela euforia causada pela independência da Jamaica da metrópole inglesa em 1962, gerando um um novo gênero musical, o ska (ver História do Reggae – parte 1). Dodd teve o mérito de fazer contato com músicos de boa formação (principalmente na Alpha Boys School de Kinsgton) que estavam dispersos pela capital da ilha e pelo circuito dos hotéis de luxo e dar-lhes condições de trabalho. Assim foi formada a banda The Skatalites. O ska logo amadureceu e se consolidou como um estilo, fazendo explodir as vendas e promovendo o surgimento das lojas de discos, que quase não existiam antes.
Com os Skatalites: Lloyd Brevett (contrabaixo), Coxsonne (com a partitura), Roland Alphonso (sax) e Johnny "Dizzy" Moore (trompete)
Vendo que o ska estava caindo no gosto do público, o astuto Dodd tomou a decisão que o colocaria na dianteira dos produtores jamaicanos por muito tempo: comprou o seu próprio estúdio. Localizada no nº 13 da Rua Brentford, a casa que já havia servido como sede de um clube chamado The End foi comprada no início de 1963. Coxsonne chamou-o de Jamaican Recording and Publishing Company Limited, mas sempre foi conhecido como Studio One. A posse do estúdio permitiu que Dodd deixasse os instrumentistas ensaiarem com calma, sem se preocupar com o tempo da locação. Assim eles puderam experimentar e desenvolver o som que queriam, sempre abastecendo o sound-system de Dodd com novidades. Além disso Coxsonne tinha tino comercial e uma grande capacidade de garimpar novos talentos, tanto entre os instrumentistas como entre seus ajudantes.
Coxsonne contratava os músicos, aprovava ou não o que era composto e sugeria possíveis versões de sucessos americanos (como "Like a Roling Stone" de Dylan, que teve uma versão dos jovens Wailers, entre outras) e ainda decidia o quê, como e quando lançar o que era gravado no pequeno e cada vez mais competitivo mercado jamaicano. Sua sagacidade e intuição certeira foram decisivas, fazendo com que o Studio One se destacasse pela quantidade, qualidade e consistência de sua produção musical.
Por tudo isso ele é reverenciado no momento de sua passagem para Zion como uma das figuras mais importantes na evolução da música jamaicana, importância que era sempre maior nas épocas de transição, como do ska para o rocksteady e desse para o reggae. Foi no período de gestação e posterior consolidação do reggae que o Studio One atingiu o ápice de sua influência, como veremos na segunda parte desta matéria.
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